A primeira das
1019 perguntas realizadas por Hipollyte Léon Denizard Rivail, conhecido pelo
pseudônimo de Allan Kardec - o Codificador da Doutrina Espírita - no // Livro dos Espíritos – Que é Deus? – é uma obra sublime em si mesma, apresentando, não
só o gigantesco avanço da nova etapa da Boa Nova, como a elevada envergadura espiritual
do elaborador da questão.
Se observarmos com “olhos de ver”, Allan Kardec, com uma simples frase de três palavras, perguntou e ao mesmo tempo ensinou as mais profundas lições espirituais para toda a humanidade:
1. Dentre milhares de questões que poderia fazer
aos espíritos superiores, Kardec escolheu justamente Deus como o primeiro assunto,
anunciando-O, assim, como o Fundamento, o Pilar da Doutrina destinada a restabelecer
a Boa Nova.
2. Kardec não pergunta se Deus existe mas o que Ele
é, ou seja, ele mesmo atesta a existência de Deus antes de os próprios espíritos
superiores dizerem qualquer coisa, não abrindo espaço para que os seres de luz
apresentem alguma outra ideia diferente sobre o assunto.
3. Dessa forma, Kardec apresenta Deus como uma
certeza fundamental que precede a própria Doutrina e que não cabe a ninguém
questioná-La, nem os homens nem os espíritos.
4. Ao perguntar “Que é Deus?” ao
invés de “Quem é Deus?”, Kardec antecipa a própria resposta, declarando
Deus como além das características humanas, afastando de vez o reducionismo muito
comum entre os religiosos em geral.
A pergunta
fundamental liberta Deus até mesmo do mundo das formas, como veremos na
resposta dos espíritos superiores.
Para uma pergunta tão elevada, Kardec recebe uma resposta à altura, um verdadeiro cartão de apresentação dos Seres de Luz para a Terra: “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.”
Simples, sublime
e sintética, a resposta não responde, ela antes abre as portas para um conhecimento
cada vez maior do Excelso e, ao mesmo tempo, toma o cuidado de não conflitar
com as outras crenças religiosas em vigor no planeta.
Sem o dizer, a
resposta retira Deus do mundo das formas, não Lhe dá forma nenhuma, mostra-O
como algo que o homem também possui e que o distingue dos outros reinos da
Natureza.
É fácil
concluir, nessa resposta, que os Seres de Luz definiram Deus como “Inteligência
Suprema” por ser essa a característica mais elevada que o homem possui, o grande
trunfo evolucionário do homem e que ele pode compreender com facilidade.
Assim sendo,
nos caminhos da evolução espiritual, precisamos sempre levar em conta o nosso
estágio evolutivo face às revelações que recebemos. Explicamos.
Para uma
formiga, Deus poderia ser um enorme monte de açúcar; para uma árvore, a vasta
floresta; para um aborígene, as forças da Natureza e assim por diante. Melhor
dizendo, os espíritos não nos responderam o que Deus realmente é, mas aquilo que
conhecemos de mais elevado em nossa vida.
A resposta à terceira
pergunta de Kardec deixa isso bem claro: nela, os espíritos superiores afirmam que
nossas definições sobre Deus estão incompletas, e o motivo disso é a “[..] Pobreza
da linguagem humana, insuficiente para definir o que está acima da linguagem
dos homens [...]”.
Ou seja, na
terceira resposta, eles “dizem” que, na primeira resposta, eles não disseram
tudo, mas sim o máximo que podemos suportar ou assimilar dentro da “pobreza da
linguagem humana”, pois não podemos alcançar o que está além do nosso atual
estágio evolutivo.
E é por isso
que Kardec, o grande discípulo de Pestalozzi, não avança mais diante do Portal de
Luz descerrado pela primeira resposta, ele decide, pedagogicamente, aguardar o
homem amadurecer na esteira do tempo, “acostumar a visão” diante da nova
claridade antes de prosseguir pela estrada da Grande Verdade.
Uma prova disso
é que a primeira resposta espiritual levaria naturalmente um buscador comum a
encher os seres de luz de perguntas sobre o que significaria para eles “inteligência”,
“causa primária”, “todas as coisas”, etc.; mas Kardec, todavia, dá-se por
satisfeito com a resposta sintética que não responde, apenas abre o assunto
convidando-nos a questionarmos muito mais, porém ele não avança.
Então, Kardec
volta-se para questões sobre provas da existência de Deus – sem questionar a
sua existência em si. Suas perguntas ali visam socorrer os materialistas de
boa-fé que se deparam com um oceano de profundas Revelações já no início do
livro.
E os espíritos
continuam respondendo, sempre precisos e sintéticos, não para Kardec mas para
toda a humanidade respeitando a nossa tenra idade espiritual, implicitamente reiterando
nas respostas, aqui e ali, que não podemos receber mais do que estão nos dando.
Até que, na resposta
à pergunta nº 14, eles vão direto ao ponto afirmando: “Deus existe; disso não
podeis duvidar” e, em seguida, aconselham-no “crede-me, não vades além”, por
não ser útil mais do que já foi dado para o nosso estado de desenvolvimento, como
um pai sabendo a hora de parar de explicar um assunto para sua criança.
Foi com esse cuidado amoroso paternal que os Seres de Luz Guias Espirituais do Povo Judeu psicografaram, por meio do grande médium do Alto Moisés, os sete dias da criação do Universo na Gênese - o primeiro livro da Bíblia.
Hoje, a ciência sabe que o mundo, muito menos o Universo, não poderia ter sido feito naquele espaço de tempo e que há enormes lacunas na descrição bíblica, porém, para o povo judeu naquela idade espiritual, a narrativa psicografada por Moisés foi perfeita, e um exemplo disso está nos comentários dos próprios espíritos superiores no Livro dos Espíritos a respeito da Gênese:
38. Como
criou Deus o Universo?
“Para me
servir de uma expressão corrente, direi: pela sua Vontade. Nada caracteriza
melhor essa vontade onipotente do que estas belas palavras da Gênese – ‘Deus
disse: Faça-se a luz e a luz foi feita.’ ” (Livro dos Espíritos, pergunta nº 38)
Dessa forma,
assim como os pais utilizam alegorias para explicar o sensível ato da
procriação à mente infantil, não devemos nos admirar estarmos recebendo
metáforas e fantasias para explicar temas muito além da nossa capacidade
espiritual.
Uma amostra
disso é que, somente em 1944 – 90 anos depois de O Livro dos Espíritos, iniciou-se
uma nova etapa das Revelações Espíritas com a imensa Lavra do Espírito de André
Luiz a partir do lançamento do famoso livro Nosso Lar.
Até aquele momento, os espíritos, para os espíritas, eram seres etéreos vagando em limbos não muito diferentes do Céu e do inferno das religiões cristãs, mas, a partir de André Luiz, nossa concepção mudou completamente, havíamos crescido o suficiente para recebermos novas claridades espirituais.
Em suma, quem
entender a Revelação Espírita como uma estrutura rígida imutável no tempo e no
espaço, na verdade não a entendeu, muito pelo contrário, tornou-a um obstáculo
ao seu próprio crescimento espiritual, pois ela é um caminho sublime ascendente
que nos revela, gradual e pedagogicamente, o que podemos e precisamos saber a
cada etapa do nosso desenvolvimento como espírito em evolução.
Hoje, ao longo desses mais de 160 anos desde o Portal de Luz ter sido descerrado por Kardec e os espíritos superiores na Pergunta Magna, temos sido abençoados com incontáveis revelações de seres do Alto como Chico Xavier (1910 – 2002) – o maior médium de todos os tempos – e sua impressionante lavra mediúnica patrocinada pelos Espíritos Superiores; Pietro Ubaldi (1886 – 1972) – o grande filósofo da ciência e da religião; Sathya Sai Baba (1926 – 2011) – o Avatar (manifestação divina) da Nova Era; as mensagens que relacionam conhecimentos espirituais do oriente com o Espiritismo do famoso espírito de Ramatis; sem falarmos dos mestres da ciência moderna como Albert Einstein (1879 – 1955) e Max Planck (1858 – 1947) – pais da Relatividade e da Física Quântica respectivamente – que revolucionaram as nossas percepções sobre a realidade; além de muitos, mas muitos outros.
Pergunta: diante de todo esse torrencial de revelações por todo o planeta ao longo de quase dois séculos, será que somos capazes, hoje, de darmos mais alguns passos rumo a uma compreensão cada vez maior de Deus?
É o que veremos no próximo Post com a segunda parte desse assunto.








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